"Beijo de ouro"
Releitura de "O Beijo"(1907-1908) de Gustav Klimt
Artista: Priscila Sissi
Acrílico sobre tela de 60 x 80 cm
Ano:2021
Local: SP - Brasil
Inspirada nos mosaicos bizantinos, a consagrada obra do austríaco Gustav Klimt "O Beijo" (Der Kuss), devido à combinação de pequenos e diferentes elementos da cultura greco-romana e oriental, faz parte da fase entitulada Período Dourado, em que o artista incorporou às suas obras materiais como folhas de ouro, flocos de prata e platina.
A obra original foi criada em óleo sobre um painel quadrado perfeito, tendo como figura central a imagem indissolúvel dos corpos que unem em um abraço sobre um tapete de flores. O homem inclina-se para beijar a mulher.
As vestes são túnicas ricamente adornadas com símbolos geométricos, que impedem que se perceba o contorno dos corpos. Os símbolos retos que adornam a túnica do homem e as formas circulares que ornamentam as vestes da mulher indicam, respectivamente, virilidade e fertilidade.
No plano de fundo, espaços vazios. À direita, o vazio prossegue até o final da tela, o que denota uma sensação de profundeza, ou de abismo. A distribuição desses espaços conduz o olhar do espectador em um movimento imediatamente acima e abaixo, em direção ao abismo, como se pretendesse reproduzir o movimento e a sensação do beijo.
A árdua tarefa de reler a detalhada obra de Klimt se presta a conduzir esse beijo original imortalizado nas pinceladas simbolistas do artista, confere a integração desses seres que se unem em afeto com o todo que os rodeia. Já não há percepção da potência do masculino sobre o feminino, nem traços de uma certa apologia à dominação masculina, que perturbou alguns críticos da obra original, ao longo dos tempos.
A releitura é, sim, uma celebração à complexidade do trabalho de Klimt, ressaltando a diversidade e a intensidade de suas cores, mas também vivificando a perpetuação da completude daqueles que se conectam pela afeição e submetem-se à êxtase pela oscilação de sensações que essa disposição provoca aos amantes.
Amar e ser amado! Com que anelo
Com quanto ardor este adorado sonho
Acalentei em meu delírio ardente
Por essas doces noites de desvelo!
Ser amado por ti, o teu alento
A bafejar-me a abrasadora frente!
Em teus olhos mirar meu pensamento,
Sentir em mim tu’alma, ter só vida
P’ra tão puro e celeste sentimento:
Ver nossas vidas quais dois mansos rios,
Juntos, juntos perderem-se no oceano —,
Beijar teus dedos em delírio insano
Nossas almas unidas, nosso alento,
Confundido também, amante — amado —
Como um anjo feliz… que pensamento!*
*ALVES, Castro. Amar e ser amado. Espumas flutuantes e outros poemas. 4 ed. Rio de Janeiro: Ática, 2013. p. 251.
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